Sabe-se que aproximadamente 80% da população geral têm alterações nos pés, sendo a que a maioria poderia ser amenizada e dores prevenidas através de orientação e trabalho de exercícios específicos. No entanto, em 90% dos casos, o tratamento é feito apenas quando há presença de dores crônicas ou problemas secundários relacionados aos pés como entorses de tornozelo e dores em joelhos.
O pé tem a função de absorver impacto durante a caminhada ou a corrida, e é responsável pelo equilíbrio, controle da postura e pela sustentação do corpo em pé. As curvaturas dos pés, assim como as curvaturas da coluna, são fisiológicas para absorver impacto e para a passagem de estruturas como nervos, vasos e tendões.
Os arcos do nossos pés podem sofrer alterações como:
-pés cavos que apresentam a curvatura acentuada
- pés planos ou popularmente chamados de pés chatos quando há o desabamento ou a não formação do arco plantar - relacionado à falta de suporte do arco do pé e flexibilidade insuficiente dos ligamentos e tendões.
Qualquer alteração nessas curvaturas gera uma série de compensações posturais, principalmente em membros inferiores como quadris, joelhos e tornozelos.
Como saber se tenho pé plano?
Você já reparou em um pé de bebê? Assim como a lordose da coluna se desenvolve quando ficamos em pé, a curvatura do arco do pé também se desenvolve ao longo do tempo.
Mas por fatores específicos podem não se desenvolver:
Genética
Frouxidão ligamentar
Lesões traumáticas nos pés
Doenças reumáticas
Se o seu pé toca quase por inteiro no chão e não possui um arco na parte de dentro do pé, ele é considerado um pé plano. Há 3 graus de intensidade: leve, moderado e grave.
A forma ideal para saber qual é o seu tipo de pé é uma avaliação biomecânica.
#DICA: você pode ganhar mais consciência da forma do seu pé ao observar o desgaste no solado do seu tênis.
O pé plano pode gerar dor?
Geralmente o pé plano não ocasiona dores diretamente, mas há maior predisposição a dores de quadril, joelho e entorses de repetição no tornozelo.
Pessoas com esse pé acabam tendo a pisada “para dentro” que chamamos de pisada pronada. Esse tipo de pisada pode levar a alterações posturais reajustando o eixo de equilíbrio do corpo, contribuindo para o aumento da fadiga em membros inferiores.
Além disso, a diminuição do arco plantar diminui a capacidade de absorver o impacto no pé ao caminhar ou correr e pode aumentar o risco de lesão no pé e até predispor a problemas de tendinite, fasceíte plantar, dor metatarsal, dor no joelho e dor lombar pelo aumento das forças de impacto.
Evidências científicas associam o pé plano à lombalgia e alterações posturais como hipercifose e hiperlordose da coluna quando comparados a pessoas com o alinhamento normal dos pés.
Posso correr se tenho pé plano?
Sim, mas é importante ter alguns cuidados. A corrida por ser uma atividade de alto impacto e sem a absorção e amortecimento adequado do arco plantar pode ocasionar desequilíbrios musculares e articulares, aumentando o risco de lesão.
Para evitar problemas futuros, vale prevenir!!!
É importante o fortalecimento de musculaturas específicas de membros inferiores e pés, além do uso adequado de um calçado ou palmilha proprioceptiva para garantir maior estabilidade e reduzir o risco de machucar.
Existe tratamento para pé plano?
Em casos de dor e desconforto procure por um profissional de saúde que possa avaliar e orientar corretamente. O tratamento geralmente é simples e focado em prevenção de lesões.
Há alguns anos, e ainda os adultos dessa geração são os resultados clínicos dessa época, era de praxe os médicos ortopedistas e pediatras recomendarem o uso de botas ortopédicas em crianças com pé chato para um possível ajuste da curvatura dos pés, mas hoje esse tipo de conduta só é realizada em casos mais específicos.
Estudos recentes apontam para bons resultados com o uso de palmilhas ortopédicas sob medida e personalizadas para cada caso, auxiliando no tratamento de forma complementar. As palmilhas fornecem suporte ao arco longitudinal dos pés, melhoram o controle e distribuição de pressão durante a caminhada e fornecem estabilidade. A cirurgia pode ser indicada apenas em casos graves quando há interferência no padrão de marcha.
O tratamento mais adequado para prevenir alterações posturais e lesões se dá através do fortalecimento da musculatura, exercícios de propriocepção e exercícios de alongamento muscular através da fisioterapia.
*Colaboração Juliana Satake, fisioterapeuta da Unifesp - Clínica La Posture e Renata Luri, fisioterapeuta doutora pela Unifesp e Griffith University.