Você já deve ter visto alguém reclamar de dores no ciático, não é mesmo?
Mas, afinal, você realmente sabe o que é o tal do ciático?
O ciático, também conhecido como nervo isquiático, é um nervo bem espesso e de longo trajeto no corpo humano. Por ele passam as informações do sistema nervoso central para o periférico e vice-versa.
Quando afetado por compressão ou inflamação, seu funcionamento é alterado e repercute em dores, alterações de sensibilidade, formigamento, dormência e até perda de força muscular na perna. O problema pode ocorrer dentro do canal espinhal —entre as vértebras por onde passa a medula espinhal— ou no percurso do nervo.
Cerca de 15% da população pode sofrer com a ciatalgia, sendo os locais mais afetados a região glútea, o hálux (dedão do pé) e a face lateral da coxa e perna.
O que você deveria saber sobre o nervo ciático
O nervo isquiático tem como característica seu comprimento, por isso a dor pode ocorrer em qualquer ponto do seu trajeto: desde a região lombar baixa, passando pelo glúteo, região posterior da perna até o dedão do pé.
O trajeto do nervo ciático
Na grande maioria das pessoas, o nervo ciático passa por baixo de um músculo do glúteo, o músculo piriforme Em 10% da população, o nervo pode passar por dentro do piriforme. Nesses casos, a contratura causa dores nos glúteos ou problemas de sensibilidade na perna.
Se você já teve um episódio com essa dor, passa muito tempo sentado pressionando ou estirando a região do trajeto do ciático, dirigindo e realizando movimentos repetitivos ou carregando cargas excessivas, fique atento para evitar piora do quadro. Deve-se excluir também lesões de quadril e alterações de sensibilidade.
A situação mais comum de dor é a compressão constante na sua raiz —área de saída do nervo para a perna—, que tem por característica a dor de irradiação até o pé ou região posterior da panturrilha.
Mas você sabia que a ciatalgia também pode ocorrer por sensibilização do trajeto do nervo ciático?
Como diferenciar a causa da dor
A dor por compressão e por sensibilização neural têm mecanismos traumáticos diferentes:
Por compressão: no percurso do nervo gera um processo inflamatório local, que pode ir até o pé ou panturrilha;
Por sensibilização neural: uma situação comum se associa ao mecanismo de alongamento abrupto. Exemplo: um chute no futebol que estira a região posterior onde o nervo acaba sendo exposto. Nesse caso, a dor é mais difusa (mais espalhada), a irradiação é mais curta, normalmente não vai até o pé.
Pensando no ciático, ele não apresenta diminuição de sensibilidade e, sim um aumento da sensibilidade do nervo, é o que chamamos de alodinia —dor a um estímulo que em condições normais não causam dor.
Além disso, se houver o diagnóstico equivocado do quadro da ciatalgia, pode-se piorar o sintoma realizando-se o tratamento baseados em alongamentos que pioram consideravelmente o quadro por sensibilização neural.
Importante saber!
No trajeto do nervo pode ocorrer uma maior excitabilidade de neuromediadores que dificultam a resposta ao tratamento com anestésicos locais. Além disso, as alterações podem ampliar e modificar o campo receptivo de neurônios, fazendo interpretar estímulos como dolorosos quando eles não são. Isso explica, por exemplo, a alodinia mecânica e a cinesiofobia. Além disso, pode existir alguma desproporção entre as vias da dor, com redução da atividade inibitória da GABA (neurotransmissor) e dos opioides.
Qual o tratamento adequado para a sensibilização neural?
O tratamento é pautado em um princípio chamado de mobilização neural, que é um conjunto de técnicas desenvolvidas para acelerar o processo inflamatório desse tecido neural. No geral, a melhora da dor após a utilização das técnicas de mobilização neural é imediata, porém seu efeito não é duradouro. É necessário controlar as expectativas do paciente já que o tratamento envolve muito mais que uma única sessão.
Prevenção para a dor por sensibilização neural: evite situações no dia a dia que exponham o nervo, como ficar alongando a estrutura em excesso ou permanecendo longas horas sentado, comprimindo o glúteo e o trajeto do nervo.
Gerenciamento da dor e mudanças de postura: se você sabe que irá permanecer sentado por longos períodos, é importante ter em mente que precisa se levantar esporadicamente, uma vez que a pressão por um longo período de tempo sobre a estrutura neural, no caso o ciático, pode inflamar o local.
Algumas situações são mais complexas de se evitar, no caso de um atleta de futebol, por exemplo, ao dar um chute, se os músculos da parte posterior da perna são mais fracos que os da parte da frente da perna, gera-se uma exposição do nervo ciático. Por isso, nesses casos, é de suma importância um trabalho específico de preparo com treinador, profissional de educação física e fisioterapeuta para treino de gesto esportivo.
Caso você tenha sintomas que indicam um problema no ciático, não hesite em procurar um profissional de saúde para testes clínicos e ortopédicos específicos para descartar outros quadros e fechar seu diagnóstico em busca do tratamento mais adequado.
*Colaboração Raone Daltro Fisioterapeuta na Clínica La Posture, especializado pela Santa Casa de São Paulo e da Dra. Renata Luri Fisioterapeuta doutorada pela Unifesp
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